quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Lizzie Borden em Dose Dupla


Lizzie Borden é uma das figuras americanas cuja atração resiste ao tempo e ainda hoje continua fascinando e horrorizando pessoas no mundo todo. Prova disso é o número de vezes que a história da moça que supostamente matou o pai e a madrasta a machadadas (o crime nunca foi comprovado) em 1892 já foi contada em filmes, séries de TV, musicais de teatro e ópera e programas investigativos, sem contar as vezes que já serviu de inspiração para contos e romances, músicas e bandas e até, como já postei aqui antes, pseudônimo de cineasta. Aproveitarei, então, o clima de horror de outubro para falar sobre um filme e uma minissérie frutos da atração da personagem: ‘A arma de Lizzie Borden’ e ‘The Lizzie Borden Chronicles’.


No telefilme produzido pelo canal Lifetime em 2014, Christina Ricci vive a protagonista e Clea DuVall interpreta sua irmã, Emma. A história começa mostrando brevemente os atritos de Lizzie com o pai e com a madrasta, seu comportamento rebelde e sua tendência à mentira, seu sangue-frio e sua dissimulação. Desde o início, são evidentes os traços de psicopatia de Lizzie, e fica claro que o assassinato da dupla não foi resultado de ânimos exaltados, e sim um crime premeditado.


A maior parte do filme é dedicada ao julgamento de Lizzie e à investigação do caso. Embora durante toda a projeção seja sugerido que a moça matou mesmo o pai e a madrasta, só nos instantes finais vemos a cena da protagonista descendo o machado nos dois. Ao que parece, a produção foi bastante fiel aos fatos. Destaco o trabalho incrível de Ricci, que convence tanto como uma jovem frágil e inocente quanto como uma assassina fria e manipuladora, o figurino maravilhoso (o que são aqueles vestidos com uma espécie de gravata? lindos!) e a trilha sonora moderna que, embora à primeira vista pareça deslocada por sua contemporaneidade, casa perfeitamente com as cenas e dão o tom certo às ações.


Já a minissérie em 8 episódios mostra o que aconteceu na vida de Lizzie e de sua irmã (novamente interpretadas pelas mesmas atrizes) nos anos seguintes ao julgamento. A produção se baseou em alguns fatos e especulações referentes aos problemas financeiros e às discussões por causa de dinheiro que os Borden enfrentavam (dívidas, descontentamento de Lizzie e Emma com a família da madrasta que exigia aquisições de propriedades caras, a existência de um filho bastardo de Andrew que também estaria tentando arrancar uma grana dos Borden).


Outras especulações de época são inseridas discretamente, tanto na série quanto no filme, como, por exemplo, a possibilidade de Lizzie e/ou sua irmã terem sofrido violência física e/ou sexual nas mãos do pai e de Lizzie ser lésbica e ter que lidar com as humilhações impostas pelo pai e pela madrasta – detalhes que corroborariam sua vontade de se livrar deles.


Na série, Lizzie deixa de ser apenas uma moça que matou os pais e passa a ser retratada como uma serial killer numa extrapolação ficcional do mito. Ainda que quase tudo na trama tenha sido inventado, não deixa de funcionar muito bem como entretenimento. A protagonista continua fazendo o jogo de frágil/amedrontadora para se safar/se impor conforme a necessidade. Na imaginação dos criadores da série, ela usa sua forte personalidade para conseguir o que quer, seja manipulando a irmã (com quem tem uma relação ora de controle, ora de dependência emocional), seja mostrando sua faceta de mulher de negócios (encarando os credores, ameaçando chantagistas, fazendo alianças com poderosos do submundo).


Um personagem importante adicionado à trama da minissérie é Charlie Siringo, um agente Pinkerton que chega à cidade de Fall River para investigar por conta própria o assassinato dos Borden e para provar que Lizzie é a culpada. No desenrolar dos fatos, ele acaba se envolvendo com Isabel, a esposa do violento dono do hotel, e, obviamente, as coisas se complicam para ele. O relacionamento amoroso entre Emma Borden e o policial dedicado também é outro ponto de conflito na trama, já que coloca em perigo a proximidade das irmãs.


Apesar dos rumores de que haveria uma segunda temporada, o programa foi elaborado desde o início como uma minissérie, então pode assistir sem susto que a história tem um desfecho (que achei bom, aliás). O visual e a trilha sonora incríveis seguem o mesmo estilo do filme e as cenas de assassinato são muito boas, causando um misto de repulsa e encanto. 


Para mim, não foi apenas o fascínio mórbido por histórias de serial killer que me atraiu para ver o filme e a série, e sim a presença de Christina Ricci e Clea DuVall, duas atrizes que adoro e que me fazem assistir de tudo...rs. Mais uma vez, elas não decepcionam. Muito além da curiosidade pelo crime, sua investigação e seu desfecho, foram suas personagens bem construídas e a relação complexa entre as irmãs (cumplicidade, amor, ódio) que me prenderam. Recomendo fortemente como programa de Halloween ou em qualquer outro momento do ano.

Nota (filme e série): 4/5

Trailer legendado da série:

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