sábado, 19 de novembro de 2016

Resenha: A Guerra dos Mundos


Escrito em 1898, “A Guerra dos Mundos” é um clássico da ficção científica, e fala do que aconteceu em Londres e nos arredores quando estranhas esferas metálicas caíram na Terra, trazendo em seu interior marcianos nada amigáveis.

A história é narrada por um escritor sem nome que, uma noite, vê luzes esverdeadas e avermelhadas no céu e, seguindo sua trajetória junto com alguns outros curiosos, encontra uma enorme esfera metálica caída do céu. Ansiosos, eles ficam ao redor do objeto, mantendo certa distância, já que dele emanava muito calor. A princípio, imaginaram que era um meteorito, mas sua forma geométrica perfeita e sua superfície lisa indicavam que se tratava de outra coisa.

Coisa. Ninguém sabia o que era aquilo, mas de Coisa foi batizado. E, para surpresa geral, uma espécie de tampa se abriu no objeto. Imediatamente, as pessoas se agitaram com a possibilidade de haver seres vivos lá dentro. Possivelmente marcianos. Provavelmente precisando de ajuda. Mas ninguém jamais havia visto um marciano e não sabiam ao certo o que esperar – mas com certeza não estavam preparados para o que saiu dali: uma massa cinzenta e arredondada com olhos escuros e braços em forma de tentáculos que serpenteavam em todas as direções. Mas o choque inicial gerado pela aparência bizarra do alienígena era só o começo. Logos os terráqueos descobririam que os visitantes do espaço não eram de muito papo e, pior, não estavam ali em missão pacífica.

Para nós, seres do Século XXI, a história pode parecer batida, pois já estamos acostumados a ver nosso planeta ser invadido por extraterrestres das mais diferentes formas em livros, filmes, HQs e séries. Mas imaginem o alvoroço que H.G. Wells causou na época do lançamento do livro! Para os leitores daquele tempo, era a primeira vez que tal possibilidade se apresentava. E de forma tão assustadora! Pois se a ideia de ter alienígenas aterrissando na Terra já era inovadora, o que dizer do fato de esses seres virem com o intuito de dominação e exploração?

Bem, embora a narrativa de Wells se desenrole no futuro, com marcianos e tecnologias inexistentes, o comportamento dos extraterrestres é exatamente aquele que os humanos conhecem desde sempre e que, inclusive, usam ser pudores contra exemplares de sua própria espécie – uma crítica mordaz à colonização de vários países pela toda-poderosa Inglaterra. Aliás, o comportamento destrutivo do homem em relação aos outros seres vivos e ao meio ambiente é mais uma característica nada bonita dos terráqueos que o autor aponta, invertendo a cadeia alimentar e colocando na base da pirâmide nós, que acreditamos que somos as criaturas mais evoluídas da Terra (quiçá das galáxias), tão insignificantes quanto formigas diante da supremacia dos invasores.

Além das críticas, gostei de como o autor conseguiu captar perfeitamente nossa curiosidade e ingenuidade diante do desconhecido, nossa incapacidade de imaginar outras realidades e nosso evidente despreparo para lidar com situações de emergência. Ninguém deu a mínima para a notícia da chegada dos alienígenas, até que eles mostraram sua intenção, mas daí já era tarde demais. O caos instalado desorientou civis e militares, e o salve-se-quem-puder despertou o lado mais primitivo das pessoas, mais uma vez evidenciando os instintos animais que fingimos não possuir.

“À luz do crepúsculo as casas ao meu redor estavam sombrias e indistintas, e as árvores perto do parque escureciam. Em toda parte a erva vermelha escalava as ruínas, contorcendo-se na escuridão. A noite, mãe do medo e do mistério, descia sobre mim. Mas enquanto aquela voz soara, a solidão, a desolação haviam sido suportáveis; fizera com que Londres ainda parecesse viva, e aquela sensação me dera forças. Então houve uma súbita mudança, o fim de algo – eu não sabia o quê –, e depois uma quietude palpável. Nada, salvo aquele incêndio lúgubre.” 

Nota: 4/5

Links relacionados:
- A ilha do Dr. Moreau (resenha)

Nenhum comentário: