quinta-feira, 14 de abril de 2016

Veja Mais Mulheres - Filme #15: Mulheres na Mídia


“Miss Representation”, o título original do documentário, faz um trocadilho bacana, aludindo à cultura das Miss especialmente forte nos Estados Unidos (e, por extensão às mulheres bonitas) e soando exatamente igual à palavra “misrepresentation”, que significa uma representação falsa, distorcida, nesse caso fazendo referência à representação das mulheres na mídia.

Tudo começou quando Jennifer Siebel Newson, a diretora, descobriu que estava grávida de uma menina. Sabendo o quanto é difícil ser mulher em uma sociedade patriarcal e conhecendo os bastidores da TV, já que ela mesma trabalhou como atriz durante um bom tempo, ficou preocupada com o futuro da filha. Como lidar com as adversidades que desde muito cedo surgem na vida de uma garota? E como sobreviver ao bombardeio de informações deturpadas que a mídia passa, com os padrões de beleza inatingíveis, com os comportamentos sociais equivocados? Para tentar entender um pouco mais sobre o funcionamento dessa indústria e sobre seus efeitos devastadores, Jennifer foi pesquisar, entrevistar atrizes, apresentadoras de telejornal, diretoras, políticas e também adolescentes.

A mensagem que a propaganda prega é clara: mulheres têm seu valor atribuído pela aparência, portanto devem ser lindas, magras, desejáveis, sensuais. Já os homens podem ser o que quiserem, e, mesmo que não sejam muita coisa, tudo se resolve com dinheiro, sem o envolvimento de sacrifícios físicos: basta comprar um carro, uma roupa, um aparelho tecnológico qualquer que mostre seu status.

Assim, não é surpresa nenhuma que as mulheres sejam as que mais sofrem de ansiedade, o que leva a distúrbios alimentares, depressão, automutilação. E, além das graves consequências que isso tem para a saúde das mulheres individualmente, há um outro resultado perturbador: a enorme quantidade de tempo gasto perseguindo um ideal de beleza impossível faz com que o sexo feminino deixe de dar atenção ao que realmente importa, que é a instrução, o que acaba se traduzindo em um número reduzido de mulheres em cargos de chefia em empresas e um número mais insignificante ainda de mulheres na política. Se não há representação de um grupo no governo, esses indivíduos não existem. E se não há mulheres em posições de poder e destaque, as mais jovens não têm em quem se inspirar. É uma bola de neve.

Nos raros casos em que vemos mulheres na política, o tratamento dispensado a elas é ofensivo. Não precisamos ir muito longe. Basta dar uma olhada em qualquer notícia recente sobre a presidente Dilma para ver o festival de insultos e misoginia. Os esforços para mostrar a mulher como ‘louca’ vão desde a escolha de palavras na elaboração de um texto jornalístico (dois exemplos dados no filme: um político X declarou que está insatisfeito com algo; uma política Y reclamou de algo) até o uso de imagens fora de contexto.

No caso do documentário, a diretora mostra algumas das agressões sofridas por Hillary Clinton e Sarah Palin, respectivamente candidatas à presidência e à vice-presidência dos EUA nas eleições de 2008. Hillary foi julgada por suas roupas mais conservadoras, seu penteado mais antiquado, sua idade, pelo escândalo sexual protagonizado por seu ex-marido. Em algumas gravações de seus comícios, é possível ouvir homens gritando “passe minha camisa”. Sarah, por sua vez, foi retratada como a mulher bonita com maquiagem e cabelo perfeitos, várias fotos dela foram tiradas de baixo para cima, para destacar suas pernas, foi reduzida a um símbolo sexual.

Enfim, há muitos depoimentos interessantes, alguns bem tristes e revoltantes. Não quero me estender mais, então vou só deixar alguns dados preocupantes mostrados no filme para vocês (lembrando que o filme faz referência apenas aos EUA e que foi lançado em 2011 – imaginem a situação atual...):

- 65% das mulheres têm distúrbio alimentar
- o índice de mulheres e garotas com depressão dobrou entre 2000 e 2010
- 51% dos americanos são do sexo feminino, mas as mulheres representam apenas 17% do congresso (países como Cuba, China, Iraque e Afeganistão têm mais mulheres no governo do que os EUA)
- 16% dos roteiristas, diretores, produtores, editores, diretores de fotografia são mulheres
- 16% dos filmes são protagonizados por mulheres (mesmo assim, o objetivo delas é encontrar o amor, casar, engravidar - ou seja, o verdadeiro protagonista continua sendo um homem)
- 1 a cada 4 garotas sofre violência em encontros com o namorado
- 1 a cada 4 mulheres sofre abuso do parceiro durante toda a vida
- 1 a cada 6 mulheres sobrevive a um estupro ou tentativa de estupro; 15% das que sobrevivem têm menos de 12 anos

Quem quiser saber mais sobre o filme e sobre o The Representation Project, iniciativa que visa acabar com os estereótipos de gênero, é só acessar o site, clicando no link acima. Dá para ver o documentário legendado em português no Vimeo.

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Sobre a diretora:

Jennifer Siebel Newson nasceu em San Francisco, Estados Unidos, e atualmente trabalha como roteirista, diretora e produtora, tendo atuado anteriormente em vários filmes e séries de TV. “Miss Representation” foi seu primeiro trabalho como diretora e ganhou vários prêmios pelo mundo. Seu segundo documentário, “The Mask You Live In”, estreou em 2015 no Festival de Sundance, e fala sobre como nossa definição cultural de masculinidade está afetando negativamente meninos, homens e toda a sociedade. Atualmente, ela trabalha em seu terceiro filme: “The Great American Lie”.

Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI. 

Um comentário:

Unknown disse...

Preciso ver esse documentário.
Achei a ideia muito interessante.

Beijos,
Carissa
www.carissavieira.com.br