Dolores
é uma mulher de meia-idade conhecida no povoado em que vive por ser uma pessoa
generosa. Todos os dias, ela cumpre um ritual de caridade: visita enfermos,
conta histórias para a única criança da vila que deixou de falar devido a um
trauma, trata de animais doentes, cuida da organização da igreja, enfim...
ajuda no que for preciso. Todos a adoram, mas por achar que a esposa se dedica
mais aos vizinhos do que a ele mesmo, o marido a abandona. Arrasada, ela se
culpa e vai se confessar ao padre, que a manda embora dizendo que ela é uma
mulher sem pecados. Isso dá um estalo na cabeça da protagonista: ela chega à
conclusão de que, para conseguir seu marido de volta, precisa pecar. Mas que pecado escolher?
Dolores (Elisabeth
Margoni) é uma criatura realmente bondosa, que gosta de ajudar por puro
altruísmo, que se sente bem fazendo o bem. O marido, ciumento e egoísta, não
enxerga isso. No entanto, é o sumiço dele que dá início a uma transformação sem
precedentes no povoado. Sentindo-se a última das mulheres da face da Terra
depois de ser abandonada, Dolores fica mal e acaba deixando de cumprir por um
dia sua rotina de bondades, e isso tira aquelas pessoas tão
acostumadas aos cuidados dela de sua condição de dependência: a senhora enferma
sai da cama, a garotinha muda fala, o padre sente sua falta... pequenos
'milagres' acontecem.
Enquanto
isso, Dolores, a mulher que não consegue ver outra pessoa sofrer, ao dormir com um homem que pretendia se matar por causa de amor não correspondido, acaba
salvando a dele. A confusão está armada: o rapaz fica tão feliz
que começa a espalhar aos quatro ventos mais esse 'milagre' da Dolores, e ela,
que assume agora o nome de Lolita, aceita como nova missão de vida amar ao
próximo. Literalmente. O que era para ser um pecado se transforma em ato com aura de divino.
A
fama de Lolita corre pela cidade e os homens fazem fila para dormir com ela. O
mais interessante é que eles saem do quarto tão leves e alegres que mudam seu
comportamento em casa, passam a ajudar as esposas, não reclamam mais de nada,
ficam mais amorosos. O povoado, que era sem cor e prestes a sumir do mapa, é
completamente alterado; a vida das pessoas muda radicalmente para melhor.
O
que mais gostei nesse filme é que ele mostra como uma mulher se transforma em
segundos, aos olhos dos outros, de santa em puta e vice-versa, e como é tênue a
linha que faz essa distinção. Outro ponto positivo é que, mesmo quando as
outras mulheres da vila descobrem o motivo da mudança dos maridos, decidem
apoiar Lolita. Lógico que rola um certo ciúme no início, mas, depois de
refletirem, elas chegam à conclusão de que Lolita era realmente uma mulher
generosa, disposta a se sacrificar em nome das outras. E pegam para servir de exemplo o marido de
Dolores, que acabara de retornar e fazia críticas à esposa, provando a ele o
quanto era difícil fazer o que Lolita fazia com dedicação plena e sem esperar nada em troca.
A
crítica do filme sobre a hipocrisia das pessoas sobra até para a Igreja,
sempre disposta a apontar o dedo, a julgar, a condenar algumas atitudes
(principalmente no que diz respeito à sexualidade feminina), mas que aceita de
bom grado fechar os olhos para certos deslizes, desde que obtenha os benefícios
que deseja.
Por
mostrar a hipocrisia da sociedade, celebrar a liberdade feminina e mostrar a
união entre as mulheres, ‘Sexo por
Compaixão’ é uma indicação mais que necessária. Assista! Assistam!
Nota:
4/5
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Sobre
a diretora:
Laura Mañá nasceu em 1968 em Barcelona,
Espanha. É atriz, roteirista, diretora e escritora. Trabalhou com publicidade,
dirigiu 2 documentários e 7 longas-metragens. Como escritora, ganhou o prêmio literário
‘Gabriel Aresti’ pelo livro ‘Falsas Apariencias’. ‘Sexo por Compaixão’ foi selecionado para o Festival de Sundance de 2001 e premiado
em diversos festivais (Toronto, Málaga, Miami...). O site da diretora, de onde retirei
essas informações, é este AQUI.
Este post faz parte do projeto Veja Mais Mulheres, criado pela Cláudia Oliveira. Para ver o post de apresentação que inclui minha lista de filmes e os links para as respectivas postagens, clique AQUI.
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