quarta-feira, 28 de maio de 2014

Série: O Bebê de Rosemary


Rosemary (Zoë Saldana) e Guy Woodhouse (Patrick J. Adams) formam um casal de americanos que se muda para a França quando o marido recebe uma proposta de trabalho. Um pequeno incidente os coloca na mira de um rico e excêntrico casal francês, que os acolhe e apresenta à nata da sociedade parisiense. A gravidez de Rosemary é um grande acontecimento, celebrado com por todos com entusiasmo. Até demais.


Começo dizendo que, se você não leu o livro de Ira Levin e/ou não viu o clássico de 1968 e tem a intenção de assistir à série, PARE DE LER ESTE POST AGORA. É sério. Pretendo falar aqui sobre o que gostei e o que odiei nesta nova versão da história, mas é impossível fazer isso sem fazer revelações importantes da trama. NÃO DIGA QUE NÃO AVISEI!


Eu não li o livro e já faz um bom tempo desde que vi pela última vez o filme do Polanski, mas sei perfeitamente o que tornou essa produção especial para mim: o desespero palpável da frágil Rosemary vivida por Mia Farrow, a tensão crescente, a repulsa causada pelas atitudes do marido, a angústia da protagonista, a dúvida sobre os horrores que ela vive (seriam reais ou fruto da imaginação?) e o final arrebatador que mantém o mistério sobre as feições do bebê. Como a maioria dos filmes de suspense que entraram para minha lista de favoritos, este também tinha como trunfo o poder de sugestão. E é exatamente a falta desse último item que me frustrou na nova série.


Eu não sou das mais xiitas quando se trata de novas versões. Fico com receio, mas a curiosidade sempre fala mais alto. O problema é que, em 90% das vezes, as atualizações dos clássicos se mostram desnecessárias e, pior, acabam com o que as primeiras versões tinham de especial. Parece que atualmente tudo precisa ser detalhadamente explicado, mastigado, digerido para o público. Não pode haver lacunas, o espectador não pode participar da história, fazer suposições, imaginar desfechos. E isso é triste.


Na série, as insinuações deram lugar ao sangue, à escatologia, a um satanismo escancarado e a um final correto, mas explicadinho demais. Outra coisa que me incomodou muito é que, na atualização, algumas coisas ainda são mantidas como nos anos 60. Por exemplo, a Rosemary do Polanski era uma mocinha ingênua vinda do interior, que se sentia perdida em Nova York, sem amigos, sem parentes e sem emprego. Era totalmente dependente do marido e dos novos e 'solícitos' vizinhos.


Já a Rosemary encarnada por Zoë Saldanha ganhou um passado de bailarina, uma mulher moderna que bancou o sonho do marido por certo tempo e que, após sofrer um aborto espontâneo, vê na mudança de ares uma oportunidade de se recuperar física e psicologicamente, enquanto o esposo assume as contas e decide continuar batalhando em sua carreira de escritor. Com toda sua modernidade, independência e astúcia (ela praticamente faz o papel de detetive junto com o chefe de polícia), é inacreditável que, nem por um segundo, ela tenha pensado em dar uma buscadinha no Google sobre o monte de porcarias que a vizinha a obrigava a tomar (só faz isso muuuuuito tempo depois, quando já não adiantava mais). E alguém me explica como uma pessoa que corre atrás do batedor de carteira, que vive importunando o inspetor, que vai procurar o padre de uma religião bem seletiva atrás de respostas não é capaz de buscar um outro obstetra? Tudo bem que ela tem dificuldade com o idioma, mas, quando quer, consegue se virar bem, não?


Enfim... para ninguém falar que eu só critiquei, vou destacar os pontos positivos. O primeiro e mais gritante é a troca de Nova York por Paris. Nada como o Velho Continente, com seus prédios antigos, charmosos e às vezes macabros, com gárgulas que espreitam nos beirais! A sensação de isolamento da protagonista por estar em um país estrangeiro, sem conhecidos e sem falar a língua direito foi uma boa correspondência do deslocamento da garota do interior (exceto pela seletividade dos momentos em que o idioma é um problema, como citei no parágrafo anterior).


Gostei muito das cores intensas e dos contrastes de sombras e luminosidade. É uma coisa básica, mas funcionou bem. Os satanistas também são muito mais atraentes agora (o que é ótimo para seduzir as vítimas) e ainda tem o gatinho preto ronronento (não me lembro se havia um bichano no filme).


Li uma matéria do NY Times em que a diretora da série explica suas intenções ao revisitar o clássico: criticar a busca desenfreada pelo sucesso e mostrar que, em pleno século XXI, apesar de todos os avanços e conquistas, as mulheres ainda não têm domínio sobre seus corpos, não podem fazer suas próprias escolhas. Não tenho como desgostar da justificativa da Agnieszka Holland. Pena que boas intenções não bastam para criar uma história inesquecível.


Indico como curiosidade.



Site oficial da série (com um monte de vídeos, entrevistas, fotos e os 2 episódios para assistir on-line (tudo em inglês, né?))

Trailer (sem legenda, mas não tem grandes mistérios):

3 comentários:

alineaimee disse...

Cogitei assistir a essa série, mas depois da sua resenha, não terei mais tanta pressa, rs.
A propósito, resenha muito bem escrita. Parabéns!

Anônimo disse...

Michelle, conclui recentemente a nova versão de O Bebê de Rosemary e achei a série fraquíssima. Ainda não assisti ao filme de 1968, mas depois de ler o seu post fiquei com vontade de ver. Voltando a série, que personagens são aquelas?! Bem burrinhas, meu Zeus do Olímpio! A trama acaba acontecendo sem nenhuma tensão. Enfim, não curti.
Bjs!

Michelle disse...

Obrigada, Aline!
Se tiver outras séries para ver, deixe essa para depois...rs

Lulu,
Pois é. Algumas atitudes não condizem. Até faziam sentido décadas atrás, mas agora... não dá. Assista sim. E depois me conte o que achou :)