quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Amo muito tudo isso?

E eis que hoje estava eu dando minha olhadinha básica em sites de notícia quando me deparo com a seguinte notícia na Folha de São Paulo: Justiça do RS condena McDonald's a indenizar ex-gerente que engordou 30 kg.


O resumo da história é o seguinte: O ex-gerente trabalhou por 12 anos na empresa (quando começou a trabalhar lá em 1996 pesando 70-75 kg até janeiro de 2009, quando deixou a empresa pesando 104 kg). O ex-gerente alega ter sido obrigado a ingerir “excesso de sal, açúcar e gorduras”, além de ter sido submetido a “longas jornadas de trabalho e pressão psicológica”.

Já a defesa alega que ele não era obrigado a comer lá e que, se decidisse comer na própria empresa, eles oferecem vários tipos de alimentos, "incluindo sanduíches, peixe, carne, frango, saladas, fruta, sucos, café, água ou refrigerantes”.

Obviamente o motivo do ganho de peso do rapaz não foi somente a refeição que fazia no McDonald’s, mas com certeza isso contribuiu. Não sei se as longas jornadas de trabalho e o estresse podem ser usados como agravantes, já que é meio difícil não ser submetido a pressão e a longas jornadas de trabalho em qualquer tipo de emprego.

O fato é que quem trabalha no McDonald’s é obrigado sim a comer um monte de porcaria. Primeiro porque nessa grande variedade de alimentos vendidos na loja não há nada que seja uma refeição decente. Segundo porque os funcionários não podem escolher livremente o que querem comer (pelo menos não os atendentes), como alega a defesa. Na loja em que eu trabalhei, por exemplo, os atendentes só podiam pegar McLanche Feliz, ou seja, hambúrguer ou cheeseburguer, refrigerante pequeno e batata pequena. Os lanches de caixinha era só para quem trabalhava aos sábados. Como eu nunca gostei dos hambúrgueres de lá, dava meu lanche para os meninos que trabalhavam comigo. E esse é um outro ponto, que não foi mencionado na notícia, mas que merece atenção: um lanchinho desses pode ser suficiente para crianças ou mulheres, mas alguém acha que isso mata a fome dos moços que trabalham lá? Terceiro porque a empresa não obriga literalmente os funcionários a comerem lá, tampouco oferece vale-refeição ou dinheiro para que os funcionários comprem outra coisa. Quem quer comer fora do restaurante tem que gastar do próprio bolso, e como o salário não é lá aquelas coisas.... já sabem o que acontece. Também não é possível levar marmita, pois não há um local para esquentá-la. E como nunca se sabe quando será possível fazer uma paradinha para comer (15 ou no máximo 30 minutos), a alegação do acusado de que engolia a comida em pé e sem rotina de horário também é verdadeira.

O que me deixa mais p#@* da vida é ainda ter que ver uns comentários descendo a lenha na decisão, dizendo que nossa justiça trabalhista é uma porcaria etc e tal. Outros querem botar a culpa no ex-gerente, alegando que nem todas as pessoas que trabalham lá ficam gordas. O que esse povo não entende é que não é porque nem todos são afetados da mesma forma que os afetados têm que aceitar os abusos.

Só posso dar os parabéns ao ex-gerente que foi prejudicado e correu atrás dos seus direitos e aos juízes que chegaram a essa sentença. A decisão não é final, mas espero sinceramente que o ex-funcionário ganhe a causa. Infelizmente avanços só são feitos quando o bolso é afetado. Se esse for o único caminho para se realizar mudanças, que seja. Querer que pessoas com mente de povo colonizado enxerguem a tirania e saiam da zona de conforto para lutar por seus direitos é pedir demais, eu sei...

Um comentário:

Sarah disse...

Afe, que absurdo. Não tava sabendo dessa. Também acredito no cara, com certeza a correria de quem trabalha no Mac não permite comer com calma e, muito menos, comer algo decente. Pequenas medidas como essa ajudam a mostrar às grandes empresas que elas não ganham sempre.
bjo